Thiago de Oliveira Cerqueira


O movimento autobiográfico sempre evoca a questão da verdade e da fidelidade dos fatos, visto que a memória é território por vezes onírico, intangível, disperso. Tocando nessa colcha de retalhos escrevo os acontecimentos escolhidos pela cadência das palavras, cuja intervenção de quem escreve é sempre parcial. Contudo, alguns fatos se impõem com muita força e guiado por eles construo esse texto.

Em minha vida passada e presente, torna-se difícil evocar uma lembrança que não esteja associada a presença de alguma expressão da Literatura. A história oral presente na fala de familiares e pessoas do convívio próximo ofereceram meus primeiros passos na incursão literária. Essa memória coletiva entrega os primeiros instrumentos para desdobrar um texto. Logo depois e talvez em conjunto, minha mãe, na sua função de cuidar moldada pela sociedade como inatismo e não escolha, preocupou-se em fazer leituras desde cedo. Dessa voz feminina que mais do que reproduzir histórias prontas, criadas por mãos habilidosas que condensam conceitos éticos, afetivos, sociais numa abordagem lúdica, dava a sua tonalidade aos fatos, e esses ganhavam a vida necessária para chegar ao outro, leitor, eu.

Desse início familiar para a vida escolar a Literatura assume uma face de obrigação, doutrina, legitimação de uma cultura necessária e erudita para o Homem (e para a Mulher). Literatura como determinada por um currículo, como expressão de um dever escolar associado a um sistema métrico e hierárquico de segregação por notas que produzem a (des)valorização dos sujeitos, deu diferentes matizes a uma experiência que, até então, era majoritariamente lúdica e entregue a experimentação da liberdade.

Mesmo nesse caldeirão de imperativos sociais, descobri autores e autoras que permitiram um alargamento das compreensões e estimularam uma necessidade de vivenciar e experimentar o mundo pela via da cultura.

Somaram-se a esses acontecimento as idas a centros culturais e eventos na rua e o reconhecimento da própria rua como lugar de encontro, com uma produção cultural sem direção e entregue ao inesperado. Rua é o espaço do encontro com a alteridade. E este cruzamento com diferença possibilita alterar a visão de mundo constituída por camadas espeças, sofrendo rachaduras que permitem novas invenções de si.

A cada autor e autora que descobria - Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles, Jorge Amado, Virginia Woolf, Charles Bukowski, Machado de Assis, Raul Pompeia, Erico Verissimo, Charles Dickens, Liev Tolstói, George Orwell, Gabriel Garcia Marquez, Paulo Leminski, Carlos Drummond de Andrade, entre outros - ofereciam formas de pensar inéditas, modos de operar com o mundo que dificilmente seriam fabricados de forma tão desenvolvida no campo individual. O lugar da Literatura é o território da construção do pensamento e como nada se dá fora dele, torna-se a própria criação de possibilidades de invenção da vida.

Mesmo com palavras tão apressadas e iniciais, arrisquei-me por demonstrar como uma vida afetada pela Literatura pode se expandir, alterar-se constantemente criando novos rumos, saídas improváveis num campo de múltiplas entradas. Reconhecendo o muito que me foi entregue por esses autores e autoras, que usaram da Literatura para dizer, e dizer com radicalidade aquilo que consideraram necessário, para modificar o quanto possível a realidade social a que estavam inseridos, parece-me impossível deixar de ofertar a minha contribuição a ampliação da cultura literária a outros, para que possam também arriscar-se e compor suas narrativas a partir dessas experiências tão diversas e potencializadoras.

Acreditando que a Literatura pode ofertar novas tecituras ao campo ético e das vivências no mundo contemporâneo entrego essas humildes palavras.
Currículo:
Thiago de Oliveira Cerqueira

 Informações Pessoais
 32 anos (1984), Brasileiro, Solteiro.
 Rua Curitiba, 940 Realengo – Rio de Janeiro/ RJ – 21730-240

 Objetivo
 Atuar de forma técnica e colaborativa no setor cultural, especialmente no que se refere à cultura literária, visando uma ampliação da interface entre Cultura e Educação.

 Formação
 Pós Graduação em Administração Pública - Fundação CEPERJ/2016
 Graduação em Psicologia – Universidade Federal Fluminense/2010

 Função atual
 Membro da carreira executiva na Secretaria de Estado de Educação/RJ desde 2013;

 Área de atuação: Gestão de Pessoas; Desenvolvimento de Pessoas; Formação e Projetos.

 Atuação durante 12 meses no Projeto "Jovens Leitores em Ação" da SEEDUC/RJ em parceria com o Instituto Ayrton Senna, que obteve significativos avanços na disseminação da cultura literária e na formação de leitores na rede estadual de educação.

 Idiomas
 Inglês – avançado- Cultura Inglesa
 Francês – intermediário – Aliança Francesa
 Espanhol – intermediário.
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